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Texto: Patrícia Britto / Foto: Matheus Britto
Um labirinto de informações arquivadas, etiquetadas e distribuídas por estantes que parecem engolir quem se arrisca entre seus corredores. O cenário –o galpão de um arquivo público municipal– dá a dica sobre o enredo mais psicológico de “Aquarius”, o novo filme que Kleber Mendonça Filho, 46, começou a gravar neste mês no Recife.
Considerado um dos nomes mais importantes do cinema brasileiro atual, o pernambucano despertou a atenção da crítica em 2012 com o premiado “O Som ao Redor”, seu primeiro longa de ficção, no qual mostrou a herança de uma sociedade patriarcal no cotidiano de personagens de classe média da zona sul do Recife.
Agora, o diretor e roteirista faz um mergulho mais intimista no mundo de uma personagem, Clara, vivida por um rosto bem conhecido nas telas brasileiras: Sonia Braga, de sucessos como “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976) e “O Beijo da Mulher Aranha” (1985). É a primeira vez que a atriz grava no Recife.
“Um filme sobre uma pessoa e o mundo dela”, nas palavras do diretor. “É mais o estudo de um personagem do que um panorama social”, disse, sem querer revelar muitos detalhes da trama.
As gravações, em bairros como Boa Viagem e Casa Forte, começaram no último dia 4 e seguem por sete semanas –ainda não há previsão de lançamento do filme.
Viúva, curada de um câncer e mãe de três filhos adultos, Sonia Braga é Clara, uma crítica de música de 65 anos que “viaja no tempo” e vive cercada por livros e discos em um apartamento no edifício Aquarius, de frente para o mar, onde se passa a maior parte da história.
“Muito disso vem de uma ideia de arquivo pessoal. Curiosamente, estamos hoje numa sequência [filmada] em arquivos. No fim, [o filme] é sobre uma guarda de memórias”, contou o diretor durante visita da reportagem ao set de filmagem montado no arquivo público de Jaboatão dos Guararapes (PE), na última terça-feira (18).
Antes de gravar uma cena, ele tira o celular do bolso e testa o enquadramento com a câmera do telefone. Dá uma última orientação às atrizes e volta. A preocupação de dar significado aos cenários, capturados de preferência em planos abertos, é frequente em seus filmes.
“Esta locação aqui hoje é muito isso, é um labirinto. Vieram pesquisar uns papéis em meio a muitos corredores, entradas e saídas. A locação já é um personagem, ela engole as pessoas.”
O novo filme acabou passando na frente de outro que já estava na fila do cineasta: “Bacurau”, que ele prepara em parceria em parceria com Juliano Dornelles.
PERSONALIDADE
Kleber Mendonça reconhece a expectativa em torno de “Aquarius”. “O Som ao Redor” foi premiado na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e nos festivais de Nova York e de Roterdã, entre outros. Foi apontado pelo jornal “The New York Times” como um dos dez melhores filmes de 2012 e listado para disputar, pelo país, uma indicação ao Oscar 2014 de melhor filme estrangeiro.
Mas o diretor tenta evitar comparações entre os dois trabalhos. “Cada filme tem que ter o seu jeito, a sua personalidade. ‘O Som ao Redor’ teve aquela, e acho que ‘Aquarius’ vai ter a dele.”
E pode-se dizer que essa diferença de personalidade começa ainda na criação do roteiro: o diretor levou um ano e meio para escrever “Aquarius”, enquanto a primeira versão de “O Som ao Redor” ficou pronta em oito dias. Já o baixo orçamento, de R$ 2,5 milhões –financiado com um fundo estadual de cultura e patrocínio do BNDES– não se distancia tanto do longa anterior, de R$ 1,9 milhão.
Nomes da equipe de “O Som…” foram mantidos: a produtora Emilie Lesclaux, casada com o diretor; Irandhir Santos, Maeve Jinkings e Lula Terra no elenco; Pedro Sotero e Fabrício Tadeu na fotografia e Juliano Dornelles e Thales Junqueira na direção de arte. Além de Emilie, outros acompanham Kleber desde curtas mais antigos, como o consultor artístico Daniel Bandeira, que participou de “Eletrodoméstica” (2005).
E, como de costume, o cineasta também escolheu atores não profissionais.
Mas foi uma longa busca por um “rosto de cinema” para segurar o papel da protagonista. Até que, numa noite com amigos, alguém soltou o palpite: Sonia Braga. “Sonia Braga, uau! Como a gente entra em contato com ela? E, em cinco dias, tínhamos feito o contato, enviado o roteiro e ela já tinha respondido que sim”, conta o cineasta. A atriz não quis dar entrevista.
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